Domingo, 31 de março
PÁSCOA DO SENHOR – ANO B
Mc 16,1-10
Aleluia, aleluia, aleluia.
Dai graças ao Senhor, porque ele é bom!
“Eterna é a sua misericórdia!”
A casa de Israel agora o diga:
“Eterna é a sua misericórdia!”
Aleluia, aleluia, aleluia!
A mão direita do Senhor fez maravilhas,
a mão direita do Senhor me levantou,
Não morrerei, mas ao contrário, viverei
para cantar as grandes obras do Senhor!
Aleluia, aleluia, aleluia!
A pedra que os pedreiros rejeitaram,
tornou-se agora a pedra angular.
Pelo Senhor é que foi feito tudo isso:
Que maravilhas ele fez a nossos olhos!
Aleluia, aleluia, aleluia!
Laudato si’, meu Senhor! Aleluia! Com o coração transbordando de alegria pascal, hoje contemplamos o acontecimento central da nossa fé: a ressurreição de Cristo! Com a liturgia do Tríduo Pascal, chegamos ao auge da história da salvação. Saímos do caminho profundo da Quaresma Laudato Si’, afastando-nos do túmulo da morte, o túmulo dos pecados ecológicos, e avançamos rumo a uma vida nova, uma vida de conversão ecológica. Fomos convidados a desacelerar e reservar um tempo para aprofundar e rezar os versículos da Palavra. A leitura das passagens de Marcos destes dias solenes foi centrada na localização dos fatos, imersos na criação. Um olival, uma montanha e um jardim. Hoje estamos no jardim, ainda ofuscados pelo silêncio do Monte Gólgota. E aqui encontramos uma frase: “Não temais. Procurais Jesus de Nazaré, o crucificado: ele ressuscitou, não está aqui”. Jesus não deve ser procurado entre os mortos porque é o Vivente! Podemos encontrá-lo todos os dias na nossa vida cotidiana se aprendermos a viver dentro da sua lógica, despojando-nos dos preconceitos humanos que nos dão uma visão distorcida do rosto de Deus.
O que é ressurreição? Talvez fosse uma boa ideia nos perguntarmos isso de vez em quando. Hoje é um dia especial para todos nós e talvez precisemos dedicar alguma atenção a este conceito de fé que muitas vezes arriscamos dar como certo. Somos cristãos e acreditamos em Jesus ressuscitado. Se Jesus não tivesse ressuscitado, em que acreditaríamos? É evidente que, para a nossa fé, este é o acontecimento central de toda a História. Mas poderíamos nos perguntar: acreditamos realmente nisso ou somos como os saduceus, que negavam a ressurreição? Aos saduceus, Jesus respondeu: “Estais no erro […] Ele não é um Deus dos mortos, mas dos vivos”! Este é o grande erro que surge: “não conheceis nem as Escrituras nem o poder de Deus”. Esta é a grande promessa de Deus já no Antigo Testamento, reiterada por Jesus. Mas muitas vezes parece que só acreditamos no que vemos à luz dos nossos medos. Temos medo da morte e por isso pensamos que “enquanto houver vida há esperança”. Mas a ressurreição é muito mais do que isso.
Não se trata de reviver um cadáver: afinal, isso aconteceu com Lázaro que algum tempo depois (meses ou anos), morreu novamente. Também não se trata de reencarnação, como se o corpo se tornasse uma espécie de prisão para a alma. Pelo contrário: a ressurreição diz respeito ao corpo e à alma juntos, pois são vivificados pelo Espírito de Deus. É Deus quem dá a ressurreição, que nos permitirá neste mesmo corpo ter a forma de Deus ao se manifestar nas virtudes e dons do Espírito. O que é lindo é que podemos viver como ressuscitados já no presente, hoje, se sentirmos nas nossas entranhas a plena alegria desta promessa!
“Após o sábado” indica o primeiro dia da nova criação, o primeiro dos sábados. Com a ressurreição, não há mais nada além de um único dia, o Dia do Senhor. Cada domingo, primeiro dia da semana, é, portanto, memória da ressurreição de Cristo, além de ser sempre memória da criação. Um único dia sempre ensolarado depois de termos vivido uma única noite longa em que o próprio dia também escureceu. Quando o sol está dentro de nós, não há sequer alternância entre dia e noite. As mulheres vão ao jardim “de manhã muito cedo, no primeiro dia da semana”, literalmente na madrugada, quando o sol começa a iluminar o céu noturno. Tiveram que esperar o final do sábado, dia de descanso e, assim que puderam, foram direto ao túmulo neste jardim.
A palavra ‘túmulo’, em grego μνημεῖον (= mneméion), compartilha uma raiz comum com a palavra ‘memória’ (μνημεῖον), com a morte e as Moiras (Μοῖραι). É o sinal concreto da consciência da morte que acompanha a vida da humanidade. Através do túmulo, cada um de nós recorda o destino que une todos os seres humanos, os humandi que estão destinados a regressar ao húmus, à terra. Memória das origens, todos somos feitos de terra e destinados a regressar a ela. Uma pedra em cada túmulo, portanto, separa aqueles que já morreram dos que ainda não estão mortos. Toda a nossa cultura pode se basear no medo da morte ou na experiência das mulheres neste jardim. Se para nós tudo termina com a morte e simplesmente voltamos à terra, podemos nos arriscar a viver avidamente, devorados pelo medo. Se lembrarmos que, além da terra, Adão e Eva passaram a viver pelo sopro vital de Deus, isso significa que voltaremos também a Deus, e então a perspectiva muda.
“Ele ressuscitou como disse” soa como um convite para todos nós hoje, no final desta Jornada Laudato Si’ que, nestes domingos, nos levou a olhar mais atentamente para as Escrituras. E de forma mais geral, é um convite à vida cotidiana, acompanhados da memória das palavras de vida que recebemos nos últimos anos nas missas da nossa paróquia ou seguindo caminhos de aprofundamento das escrituras, nos Círculos Laudato Si’, exercícios espirituais, retiros Laudato Si’, peregrinações e encontros pessoais com aqueles que nos fizeram desfrutar da beleza da Palavra de Deus. Hoje somos todos convidados a recordar.
‘Recordar’, do latim recŏrdari, deriva do prefixo re-, e cordis (coração), e significa literalmente “trazer de volta ao coração”. Talvez não seja tanto um ato da mente porque o coração era considerado a sede da memória. Portanto, hoje não temos que fazer um gesto filosófico ou intelectual, mas na memória somos chamados a fazer vibrar as cordas do nosso coração, da nossa humanidade mais espontânea e bela. O que devemos trazer aos nossos corações hoje? Por que isso nos leva a acreditar na ressurreição?
“Elas saíram e fugiram para longe do túmulo, pois estavam todas trêmulas e transtornadas”. Cada um de nós hoje é chamado a ser como estas mulheres, que saem de manhã cedinho, que preparam aromas por amor, mas que se deixam surpreender, vencem o medo e confiam num anúncio feito por um jovem vestido com uma túnica branca. Que reagem com muito medo e espanto. Quantos jovens encontramos em nossas vidas! Hoje somos convidados a ouvir palavras de vida, a recordar estas palavras que nos vivificam. Aquelas mulheres acreditaram que o amor é mais forte que a morte!
Uma notícia tão linda, que preenche a nossa vida. Imaginemos alguém que nos ama muito e nos conta uma boa notícia, um sucesso. Nosso coração se enche de alegria. É isso que somos chamados a fazer hoje: alegrar-nos e proclamar. Continuemos este boca a boca que já dura dois mil anos, em que homens e mulheres contam a outros homens e mulheres esta notícia maravilhosa.
São Francisco, em sua maravilhosa paráfrase do Pai Nosso, nos lembra:
Ó santíssimo Pai nosso: Criador, Redentor, Salvador e Consolador;
que estais nos céus: nos anjos e nos santos. Vós os iluminais para o conhecimento, porque vós, Senhor, sois a Luz. Vós os inflamais para o amor, porque vós, Senhor, sois o Amor.
Vós habitais neles repletando-os para a vida beatífica,
porque vós, Senhor, sois o sumo Bem, o Bem eterno,
do qual procede todo bem
e sem o qual nada pode ser bom (Fontes Franciscanas)
Agradeçamos ao Senhor pelo imenso dom da sua morte e ressurreição por nós e pela criação, e por nos ensinar a confiar em nós mesmos. Rezemos neste dia de celebração para que esta nova criação possa ser uma semente de alegria que trazemos para a nossa vida cotidiana.
Feliz Páscoa no amor do Senhor!
Laudato si’!